O super informado


Alguma vez você já deparou com aquele tipo de pessoa que sabe tudo? Você acha que vai contar uma novidade pra ela, mas ela já sabia muito antes de você. Sempre sabe, não sei como, mas ela sempre sabe. Na minha cidade tem um sujeito assim. Ele é chamado de Além. Não no sentido macabro, bizarro, outro mundo, mas ele sempre está além da informação atual. Seus colegas vivem tentando surpreendê-lo, mas é uma missão quase impossível.
                        __Além você ficou sabendo da última?
                        __ Qual delas? A da mulher do Zé Virado que foi pega com o amante dentro do banheiro ou a do filho da viúva Bertúlia que foi preso por tráfico de drogas?
                        __ Não. Agora eu te peguei. É o caso do compadre Suplício. A dívida era tanta que ele anoiteceu e não amanheceu.
                        __ A novidade nesse caso, Heliovaldo, é que ele já foi encontrado. Está mortinho da silva.  O corpo foi achado na beira do rio. Assassinato! Não sabia? Tem uns dez minutos que a polícia chegou ao local.
                        __ Como é que você soube?
                        __ Ah, meu amigo Emerêncio, a informação vem até mim. Não preciso correr atrás, ela vem.
                        Seus amigos cochicharam, depois deram uma gargalhada, deixando-o curioso. O dono do bar onde bebiam, atravessou o balcão, olhou fixamente nos olhos do Além e disse:
                        __ Pois eu vou te contar algo que eu tenho certeza que você ainda não soube.
                        __ Tudo bem. Pode falar. Não estou aqui pra desafiar ninguém. Sou apenas um homem informado. Não exibo isso. De maneira alguma.
                        __ A filha do seu compadre Sandoval está grávida.
                        __ De um mês e uma semana. Filho do filho do prefeito. A família está muito chocada.
                        Entreolharam-se encabulados.
                        __ Sabia que a Gertrudes e o Amâncio estão se separando?
                        __ Eles já se separaram. Ela foi pra casa de sua mãe. Ele ficou sozinho. Sem os filhos também.
                        __ Sabe quem chegou à cidade ontem?
                        __ Sei quem acabou de chegar. O Gilber Tom, aquele sujeitinho inclinado a artista. Estava na capital. Voltou numa pinta...
                        __ Não enrola. Quem chegou ontem?
                        __ A Lucilenilde, aquela que foi pro convento e desistiu. Também, com a vida que leva...
                        Mais uma vez entreolharam-se desesperançados. Mas ainda restava uma notícia. Quem teria a coragem? Eles já estavam irritados com aquilo. Como era possível saber tudo assim em primeira mão? Heliovaldo olhou para os amigos, depois para Além e soltou:
                        __ Como os pais são os últimos a saberem, eu aposto que não sabe que sua filha caçula está grávida.
                        Além enrubesceu o rosto, porém manteve a calma.
                        __ Boatos. São apenas boatos. Já a levei ao médico, fez exames. Negativo. Não é desta vez que vou ser avô.
                        __ Mas ela está saindo com um homem casado – retrucou o dono do bar, já irritado.
                        __ Outra mentira. Já sondei a vida do sujeito. Ele é amasiado. O povo fala demais.
                        __ Mas ela já transou com ele. Isso é fato – disse Emerêncio – querendo perturbá-lo.
                        __ Isso é invenção. Transa, transa mesmo nunca tiveram. Foi uma bobagem, um deslize...
                        __ Mas você sabia que ele não foi o primeiro a ficar com sua filha? – alfinetou Heliovaldo.
                        __ Claro. O primeiro foi na escola, um coleguinha...
                        __ Eu desisto – disse o dono do bar.
                        __ Você sabia que falam que você é corno? – indagou Heliovaldo.
                        __ Sabia. Mas eu conheço o cara que fatura sua mulher.
                        Heliovaldo irritou-se. Quis partir pra cima dele. A turma do deixa disso segurou-o e impediu de cometer uma bobagem.
                        __ Quem é o cara? Fala aí! Você é muito linguarudo! Eu quero provas! Minha mulher é honesta, seu filho da...
                        __ Ele está aqui no bar.
                        __ Vamos parar por aqui. É hora de fechar o bar. Vocês já estão exaltados, vamos embora – disse Emerêncio.
                        O clima de suspense ficou no ar. Além tomou um último gole, olhou para Heliovaldo e disse:
                        __ Eu não tenho culpa se sou super informado e você não. Quanto à sua mulher, não liga não. Existem muitos iguais a você por aí. Você não está sozinho.
                        Além saiu rapidamente, deixando os outros atordoados.
                        __ Esse cara sabe de tudo – disse o dono do bar – deve ter um pacto com o...
                        __ Bobagem. Muita coisa ele inventa, isso da minha mulher, isso não tem lógica. Ela é honesta, fiel... Vocês não acreditaram nele. Ou acreditaram?
                        __ Não. Claro que não – respondeu Emerêncio – sua mulher está acima de qualquer suspeita. Quem de nós faria uma coisa dessas com você?
                        Heliovaldo despediu-se deles e ia saindo. O dono do bar gritou:
                        __ Cuidado com a porta!
                        Tóimmmm! Heliovaldo caiu estirado no chão.
                        __ Coitado! A cabeça pesou – disse o dono do bar.