A história de Gabriel

Hoje quero contar a história de Gabriel. Acredito que é muito parecida com a de muita gente. Não nasceu no hospital. Nasceu em casa, ou melhor, debaixo de uma árvore. Tudo começou assim: Dona Genoveva morava na fazenda do Sr. Gregório e não tinha nem uma vassoura pra voar, não a chamo de bruxa, apenas digo que era pobre, não confunda as coisas, ela poderá se sentir ofendida. Acordou no meio da noite sentindo fortes dores. Cutucou o marido, o Sr. Bartolomeu, homem simples, barbudo, meio calvo. Mentira. Calvo por completo, parecia que andava de cabeça pra baixo, mas deixando os pormenores irrelevantes, vamos ao que interessa. Ele se pôs de pé imediatamente. E correu até a sede da fazenda, mas tão logo chegou percebeu que o carro não estava na garagem. “Danou-se”, pensou. E agora? Genoveva não aguentaria ir a pé até a cidade com aquela barriga enorme e ainda por cima sentindo as dores do parto.

Voltou correndo pra casa. Decidiram esperar o dia amanhecer. Iriam no primeiro ônibus. Teriam que andar uns dois quilômetros até a estrada principal, mas isso era moleza pra dona Genoveva. Acontece que quando estavam quase na metade do caminho a criança pegou pirraça. Não queria mais esperar pra nascer. Deu uma mordida ou uma unhada mesmo e estourou a bolsa. “Tá nascendo homem”, gritou ela. E ele na sua simplicidade respondeu: “Eu sei que é homem uai, não vai chamar Gabriel?” Dona Genoveva se encaminhou para debaixo de uma enorme árvore à beira da estrada e nem lhe deu resposta, mas pensou: “Eita Bartolomeu sonso!”

Acomodou-se como uma porca, ou melhor como uma vaca. Não. Retira tudo que escrevi, não posso compará-la assim. Acomodou-se como uma gata. Gata? Também não era pra tanto. Ah! sei lá! Acomodou-se como uma qualquer e ali mesmo Gabriel chorou pela primeira vez. Não por causa do tapinha no bumbum, mas na hora de cortar o cordão umbilical, o atrapalhado do pai quase corta o... isso mesmo que você pensou, mas a mãe segurou a mão dele e disse: -”Você é doido? Corta o dele e eu corto o seu depois”. Foi aí que ele se deu conta do erro que estava cometendo, e no nervosismo ainda feriu o menino, que dizem traz uma cicatriz até hoje, mas eu jamais pedi pra conferir. Se você quiser confirmar a história peça a ele, mas não diga quem lhe contou.

Então após o acidente com a criança, Sr. Bartolomeu pegou novamente o canivete que havia caído no chão e cortou enfim o cordão umbilical de Gabriel. “Mas eu nunca vi um bebê tão avantajado”, exclamou, e disfarçadamente olhou para suas próprias calças pensando: “Será que nasci assim também?”. 

Aquele menino surpreendia a todos a cada dia, a cada mês, a cada minuto, a cada segundo. Parece que gostava de surpreender mesmo, nem que fosse com um cocô fedido, com um esguicho de xixi ao trocar as fraldas, ou com um pum bem dado, daqueles que estalam e ainda exalam aquele aroma que contamina todo o ar. A maior surpresa mesmo foi quando disse a primeira palavrinha. Aliás não era palavrinha. O papai soletrando e pedindo pra repetir P A P A I e do outro lado a mãe fazendo o mesmo, claro que com a palavra M Ã E. Mas para espanto dos dois e de alguns vizinhos que estavam lá pedindo alguma coisa emprestada, porque vizinho é assim mesmo, quando aparece é pra pedir um favor ou algo emprestado. Bom deixa os vizinhos pra lá e vamos ao que interessa, a palavra. Gabriel abre a boquinha e fala pausadamente: COMPUTADOR. Hã? Susto geral. Eles nem tinham computador em casa.

A segunda palavra foi INTERNET, e depois FACE, TWITTER e enfim mamã e papá.

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