Diante da porta



Ao abrir a porta me deparei com aquela mulher desconhecida me pedindo ajuda. Os olhos tristes e com lágrimas, mãos trêmulas e sujas. O cabelo grudado no couro cabeludo, com certeza há dias não tomava banho. Ao seu lado uma criança aparentando uns seis anos de idade. Começou a contar sua história, mas eu não estava interessado. Pedi que aguardasse na porta. Retornei para dentro de casa. Peguei uns restos de comida e esquentei no micro-ondas. Enquanto esquentava, tirei meu pijama e vesti uma calça jeans e uma camiseta amarela.

Abri a porta novamente e estendi a ela minhas mãos com os pratos de comida. Ela balançou a cabeça em sentido negativo. “Não estamos com fome”, disse-me. “Mas não me pediu ajuda?”, respondi olhando para a criança que acabara de arrancar uma flor do meu jardim. “Pensa que os pobres só querem comida, rapaz? Eu queria apenas conversar com alguém, desabafar, partilhar a minha dor…” 

Eu fiquei meio irritado com o tom da voz daquela desconhecida, mas não disse nenhuma palavra. Na verdade eu desejei que ela fosse embora de imediato. Fiquei imóvel olhando aquelas duas criaturas enquanto o silêncio dominava toda a situação. Vendo que não sairiam da minha porta eu pedi para irem embora. A menina aproximou-se de mim e me pediu pra lhe mostrar a minha casa. Neguei o pedido dizendo que não tinha tempo. Na verdade eu tinha todo o tempo do mundo, mas não queria que entrassem em minha casa. Estavam tão sujas e cheiravam mal.

“Estou sofrendo muito rapaz”, disse-me a mãe. Eu ameacei entrar e ela segurou meu braço. Soltei com um safanão e ela cambaleou mas conseguiu se manter de pé. “Não encoste em mim! Saiam da minha porta ou…?” “Ou…vai chamar a polícia? Ou vai nos matar?” Nada respondi. Dei-lhe as costas e entrei novamente. Tranquei a porta e fui lavar o meu braço onde aquela imunda pôs as suas mãos. Enquanto lavava ouvi batidas na porta. Aquilo me enfureceu de tal maneira que me fez perder o controle. “O que você quer de mim? Sai logo da minha porta ou acabo com sua vida!”

Aquela senhora olhou dentro dos meus olhos e disse: “Você precisa mais de ajuda do que eu, meu filho” E em seguida me deu um abraço apertado. Começou a acariciar minhas costas e pedia sussurrando nos meu ouvidos para eu ficar calmo, dizia que tudo ia ficar bem. Um cheiro de perfume penetrou minhas narinas e eu me senti confortável envolto em seus braços. Mas eu não queria continuar ali naquela situação. Alguém poderia me ver e o que iriam pensar? Soltei-me dos seus braços e disse que eu não tinha nada pra lhe oferecer e nem precisava de ajuda. Eu já havia feito a minha escolha há muito tempo. Ela segurou a mão de sua filha, lançou um olhar pra mim e balançou a cabeça em sentido negativo. “Procure um especialista, você deve ter dinheiro pra isso, eu tenho que contar com a sorte”. Saiu rapidamente. 

Entrei debaixo do chuveiro tomei um banho demorado. Sentia-me tão sujo, tão imundo quanto aquela mulher. Por mais que eu me lavasse a sujeira não saia, pois estava na minha alma e não no corpo, foi então que percebi que meu cheiro é mais fétido do que o daquelas criaturas.

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