Nil em o capitão



Foi difícil conseguir a fantasia de capitão do exército. Mas consegui. Até que gostei de me ver vestido daquele jeito. Muitas mulheres me pediam pra ir de marinheiro, de soldado, mas de capitão era a primeira vez. Já fui até de cozinheiro. Fiquei engraçado.

Ao passar pela portaria do prédio me identifiquei como capitão. O porteiro me olhou nervoso, talvez por não saber como se comportar diante de mim. Tive que segurar um risinho bobo que começou a se formar em meus lábios quando o vi todo atrapalhado ao interfonar para minha cliente.

Eu vi a maçaneta da porta girar e logo à minha frente surgiu uma mulher de uns 45 anos aproximadamente. Ela não me olhou nos olhos. Afastou-se um pouco para que eu entrasse. Ela vestia um uniforme de governanta, mas eu tinha certeza que era a minha cliente.

- Vem! - Ela segurou minha mão e me levou para o quarto. 

Ela estava tensa. Eu perguntei se era a primeira vez dela, mas ela desconversou dizendo que tinha dormido muito mal na noite anterior. Ela sentou-se na cama e baixou os olhos. Eu me ajoelhei diante aos seus pés.

- O que foi? 

Ela não me respondeu e começou a se despir. Eu me levantei e comecei a fazer o mesmo. Percebi que ela não era de muita conversa. Ela jogou suas roupas no chão e se deitou na cama. Eu fiquei observando por uns segundos e após tirar a última peça fui em direção a cama, mas parei quando ouvi um barulho e senti algo frio encostando em minhas costas. Não tive tempo nem de raciocinar.

- Então você gosta de mexer com mulher dos outros? Mãos para trás!

Eu gelei ao ouvir aquela voz de homem atrás de mim. E muito mais por sentir aquela arma pressionando minhas costas. Como explicar aquela situação? Eu estava morto, pensei. Acabou as aventuras do Nil. Ele me algemou e então ficou cara a cara comigo. Ele estava fardado. Era um soldado. Eu podia sentir a respiração dele. Por pouco não ouvi seus batimentos cardíacos. Tive medo que ele me tocasse.

- Agora você vai ver capitão o que eu vou fazer com sua mulher! Vou te mostrar como um homem de verdade trata uma mulher.

Então percebi que estava envolvido numa fantasia muito louca. Aquele homem partiu pra cima daquela mulher como um animal selvagem. Ficou virado para mim e me olhava de um jeito que me dava nojo. Eu comecei a me virar, mas ele gritou para eu ficar parado. Não demorou mais do que três minutos, mas pareceu uma eternidade pra mim. Olhei para a mulher. Desolada e triste. Insatisfeita. Que estúpido! Não teve a menor delicadeza! Agiu como um porco!

- Vá tomar um banho - ordenou ele à mulher.

Ela me olhou, suspirou e foi para o banho. Ele aproximou-se de mim, tirou as algemas, deu um tapa em meu bumbum (o que me deu vontade de socá-lo) e disse:

- Valeu capitão! O dinheiro está no criado ao lado da cama.

Eu me vesti rapidamente. Estava com ânsia de vômito por causa daquele homem. Peguei o dinheiro e sai sem dizer adeus.

Fiquei com pena daquela mulher. Mal amada. Infeliz. Por que se sujeitar a um sujeito como aquele? Liguei pra ela alguns minutos depois. Pedi desculpas. Desabafou comigo e chorou. Sentia-se oprimida. Marcamos um encontro em meu apartamento secreto. Digo secreto porque é onde levo minhas clientes quando não pedem atendimento em domicílio. 

Dois dias depois nos encontramos. Ela me contou detalhes de seu relacionamento. Sonhava ser acariciada com ternura, com amor, com a delicadeza que uma mulher merece, mas isso nunca aconteceu. Ele sempre a tratava daquele jeito. Só para satisfazer as necessidades dele. Orientei que conversasse com ele e dissesse a verdade. 

No final ela me agradeceu e disse que me procuraria de novo se precisasse dos meus serviços, mas naquele dia apenas conversamos e ela saiu satisfeita.

Por hoje é só.

Um beijo do Nil. 
Juarez do Brasil
Imagem: google.com.br

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