Ao abrir o
portão de minha casa deparei com uma criança sentada na calçada. Os seus
cabelos estavam despenteados e sujos. Vestia um calção de nylon amarelo e uma
camiseta de malha vermelha. Os pés descalços com algumas feridas me chamaram a
atenção, mas eu estava com pressa para ir ao trabalho e não parei para lhe
oferecer ajuda. Segui meu percurso normal de todos os dias até o ponto de
ônibus e entrei na fila de espera.
Lembrei-me do meu crachá. Revirei meus bolsos e não o encontrando tive
que retornar até minha casa.
O menino
estava lá no mesmo lugar. Agora eu estava com mais pressa ainda. Nada podia
fazer. Entrei rapidamente, peguei meu crachá e sai. Passei por ele e dei um
sorriso meio sem graça e corri até o ponto de ônibus. Se chegasse atrasado
tomaria uma bronca do meu chefe.
No final da
tarde, após o expediente de trabalho voltei. Ônibus lotado. Um pequeno
engarrafamento. Já quase chegando ao meu bairro consegui um lugar para sentar.
Tinha uma senhora em pé ao meu lado, acabei cedendo meu lugar a ela. Com muito
pesar, mas cedi. Afinal devia estar mais cansada que eu. Ela me agradeceu e sem
cerimônia sentou-se.
Desci
apressado para chegar a minha casa. De longe avistei algo na minha calçada.
“Aquele menino ainda continua lá?” pensei.
Ao me aproximar percebi que estava deitado e todo encolhido. Desta vez
tive que parar. Ele estava imóvel.
Inclinei-me até ele. Toquei seu corpo. Permaneceu imóvel. Não senti sua
respiração. Olhei seus pés. As feridas estavam minadas de sangue. Tomei seu pulso. Estava
morto.
Chamei um
taxi, mas o motorista recusou a viagem dizendo que não era da funerária. Fiquei
sem saber o que fazer. Entrei em casa e liguei para polícia.
Não consegui
dormir aquela noite. A minha negligência matou aquele menino. O meu emprego não
deixou que eu o salvasse.
Hoje sou o
responsável por uma casa de menores abandonados. Mais de cem crianças são
assistidas e mesmo assim aquela culpa me perturba todas as noites. Aquele olhar
me pedindo misericórdia não sai da minha memória.
Juarez do Brasil
3 comentários:
Nossaaa! Muito profunda essa historia. Faz a gente refletir e melhor ainda naum nos deixa cometer o mesmo erro.
Muito Triste será que é veridica ?
Muito Lindo Juarez, em pensar que de certa forma todos os dias deixamos de dar assistencia a alguem que necessita... nem parar pra ouvir o outro paramos.
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